quinta-feira, 21 de abril de 2011

Acordar do desacordo

Estamos a viver um período histórico. Os motivos estendem-se por vários acontecimentos, desde a crise económico-financeira à escala global, que arrasta consigo um conjunto de consequências como a necessidade de repensar paradigmas, até às transformações que ocorrem no mundo árabe, cujas consequências o tempo demonstrará.
Como se sabe, é um período que não deixará boas recordações em muitos países. Nalguns, como Portugal, a situação atinge contornos um tanto ou quanto assustadores. Cada um terá as suas próprias responsabilidades, cada um terá que fazer as reformas adequadas à sua realidade, porém, quando se constata que a pobreza global não cessa de aumentar, que as desigualdades não cessam de aumentar, que o desemprego não cessa de aumentar, que o índice de depressões (nos países desenvolvidos) não cessa de aumentar e que a degradação ambiental parece perpetuar-se, poder-se-á dizer que algo vai podre nas políticas defendidas e praticadas pelas instâncias económicas internacionais.
O desânimo desaguou no mundo “desenvolvido”. Passeia-se nos grandes centros urbanos, enegrecendo perspectivas, tornando apáticos os espíritos e causando um afastamento entre a sociedade civil e a política. Quando a confiança dos governados sobre os governantes se dissipa, a resignação torna-se o alimento da continuidade e a intervenção o alimento da mudança.
Mas, onde está o centro congregador de esforços para concretizar essas mudanças? Estarão as famílias de esquerda condenadas ao desentendimento? Se é verdade que as internacionais socialistas se tornaram incipientes, pouco congregadoras e infrutíferas, também é verdade que quem ganha com esta dispersão ideológica é a direita.
Caso se chegasse a um acordo que aglutinasse um conjunto considerável de correntes de esquerda, capaz de representar um projecto global que partisse da análise da realidade socioeconómica actual para apresentar as transformações estruturais a serem executadas globalmente, levantar-se-ia uma alternativa ao capitalismo à escala mundial. E é esta a dimensão que uma alternativa forte deve ter, uma vez que os pilares do actual sistema não estão sedimentados em pátria alguma. Aliás, como afirmou aquele senhor barbudo, “O Capital não tem pátria”.